quarta-feira, 3 de setembro de 2014

FACTOS SOBRE A PROVINCIA DE MANICA (1)




FACTOS SOBRE A PROVINCIA DE MANICA (1) 

Troço da EN6



Fernando Nhaca

Sumário
O meio ambiente é parte integrante do desenvolvimento na medida em que contem os recursos necessários para a realização de varias actividades humanas, por isso o uso destes recursos requer que se obedece a um ritmo que permita a sua renovação e exploração a longo prazo. Por isso a redução do desmatamento e o aumento da área reflorestada, a depuraracão e a manutenção da pureza dos recursos hídricos, a extracção mineira através do uso de boas praticas ambientais e a contenção da erosão são elementos a concentrar maior esforço, de modo a conciliar a necessidade de uso dos recursos naturais com a preservação do meio ambiente (Plano Estratégico de Desenvolvimento da Província (2011-2015),Chimoio, Nov. 2011.
Nesta obra são descritos os principais problemas ambientais da província de Manica de origem da mineração artesanal, desflorestamento, aquecimento global, mudanças climáticas, saneamento do meio, da vida doméstica, entre outros. Além destes, são apontadas também os impactos, consequências da acção antropogénica sobre o meio ambiente, sobre a atmosfera, o clima, florestas, água e solos. Tenta-se estimular (sem querer comprometer o progresso e desenvolvimento socioeconómico) a descoberta e implementação de soluções sustentáveis, razoáveis para esta situação catastrófica e contra o desenvolvimento sustentável. O modo simples de apresentar os aspectos, problemas do equilíbrio ambiental foi com o intuito de tornar a abordagem acessível a grande número do grupo alvo, nomeadamente; académicos, decisores, líderes comunitários, religiosos, associações e empresas mineradoras.
A publicação não se assume como completa, acabada e muito menos perfeita, pelo que ainda carece de melhorias aos quais o autor agradece atempadamente.


Infelizmente a província de Manica é afectada por vários problemas ambientais, muitos deles provocados por diversas actividades do homem. Estes problemas afectam a fauna, flora, solo, águas, ar e outros componentes ambientais.
Com a presente dissertação pretendemos abordar os principais problemas ambientais actuais tais como: poluição do ar por gases poluentes gerados, principalmente, pela queima de combustíveis fósseis (carvão mineral, gasolina e diesel) e indústrias; poluição de rios, lagos, provocada por despejos de esgotos e lixo, acidentes ambientais (derramamento de crude/petróleo na nossa costa marítima), entre outros; poluição do solo provocada por contaminação (agrotóxicos, fertilizantes e produtos químicos) e descarte incorrectos do lixo; queimadas descontroladas para abertura de campos agrícolas, abertura de estradas, espaços para habitação; desflorestamento com o corte ilegal de árvores para comercialização de madeira e construção de infraestruturas; perda da fertilidade do solo para a agricultura, provocado pelo uso incorrecto; diminuição e extinção de espécies animais, provocados pela caça furtiva e destruição de ecossistemas; falta de água para o consumo humano, causado pelo uso irracional (desperdício), contaminação e poluição dos recursos hídricos; aquecimento Global, causado pela grande quantidade de emissão de gases do efeito estufa; diminuição da Camada de Ozono, provocada pela emissão de determinados gases (CFC, por exemplo) no meio ambiente.
As queimadas têm um efeito devastador sobre os ecossistemas. Anualmente, milhares e milhares de hectares de florestas são devastados pelo fenómeno de queimadas sem controlo. As queimadas descontroladas são reconhecidas como um agente que contribui para os problemas ambientais do tipo; desertificação, erosão dos solos, seca, alteração do ciclo hidrológico.
O distrito de Macossa, por exemplo, é reconhecido como o “distrito campeã do fogo”, dada a frequência sistemática das queimadas descontroladas particularmente entre os meses de Abril a Outubro.
A desertificação, processo de degradação do solo, com perda de produtividade agrícola em cerca de 10% devido fundamentalmente à acção combinada do sobrepastoreio, erosão dos solos, secas prolongadas e mudanças climáticas. Ocorre em regiões áridas ou semi-áridas que se transformam em desertos.
Na actualidade, a exploração Artesanal de minerais se espalhou pelo planeta e têm trazido muitos benefícios à humanidade. Entretanto, está na origem de inúmeros problemas ambientais com consequências nefastas irreversíveis.
Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), indicam que a mineração de pequena escala extraia de 15 a 20% da produção mundial de minerais não combustíveis é em países em vias de desenvolvimento incluindo Moçambique. Calcula-se no mesmo estudo que mais de 13 milhões de pessoas trabalham na mineracao artesanal sendo que 80 a 100 milhões de pessoas dependem da mesma para subsistência.
Em Moçambique a mineração artesanal foi retomada em Manica nos finais dos anos 80 e desde 1992 até à data, a mineração artesanal tem sido praticada um pouco por todo o País como recurso para o auto emprego e a melhoria da renda familiar nas comunidades.
A Província de Manica tem conhecido um crescimento desregrados desta actividade facto que tem preocupado os governos locais e a várias correntes da sociedade.

Devido aos inúmeros problemas ambientais resultantes da mineração artesanal principalmente a ilegal e devido ao vazio que se nota na definição precisa de acções e responsabilizações urge a necessidade de desenhar estratégias de gestão da mineração artesanal na Província.
O desaparecimento de florestas em contrapartida, pode causar um aumento nas temperaturas globais, causando alterações nas frequências e intensidades de eventos de temperaturas extremas, alteração aos microclima e em padrões de precipitação resultando em secas e estiagem prolongados propiciando bolsas de fome e insegurança alimentar nas comunidades afectadas.


Características gerais da província de Manica

Localização geográfica astronómica

A província de Manica está localizada no Centro-oeste do País, ao longo da fronteira com a República do Zimbabwe.
A fronteira de Moçambique com Zimbabwe é a linha de 1231 km de extensão, que vai do norte do Zimbabwe para o leste do país, daí indo para o sul. Não tem marcos e encontramos cidadãos do Zimbabwe a fazerem suas actividades em Moçambique, como agropecuária, comércio, mineração entre outras, o que propicia algum desconforto socioeconómico e ambiental para a província de Manica, principalmente em Machipanda, Penhalonga, Chimanimani, Rotanda, Mossurize.
Astronomicamente a província de Manica localiza-se entre os paralelos 21º34´07´´ e 16º24´05´´ de latitude Sul; 34º01´47´´ e 32º42´45´´.[1]

Limites

 Os limites da província de Manica são, a Norte a província de Tete, através dos rios Luenha e Zambeze numa extensão de cerca de 600km; a Sul é limitado pelas províncias de Gaza e Inhambane, através do rio Save; a Este, separa-se da província de Sofala numa separação terrestre e a Oeste, faz fronteira com a República do Zimbabwe.
Pela sua localização geográfica, a província de Manica ocupa um lugar de destaque no contexto económico, pela facilidade na articulação com o resto do território nacional e com outros países do hinterland.
A província de Manica é atravessada por vias rodoviárias e ferrovias que ligam o porto da Beira ao Zimbabwe, numa extensão de cerca de 300km, constituindo o corredor da Beira, e pelo oleoduto que transporta o combustível (pipeline) para o Zimbabwe. Tem uma ligação rodoviária com as províncias de Tete, Zambézia, Sofala e Inhambane, ligando as zonas centro, Norte e sul do País.[2]

Superficie total 621.661 km².

População1.412.248Hab[3]

Densidade populacional 23 Hab/ km².

Divisão administrativa

 A Província de Manica é a segunda menor do País, a seguir à de Maputo, Administrativamente está dividida em 9 distritos (Guro, Tambara, Macossa, Barué, Manica, Gondola, Sussundenga, Mossurize e Machaze, 2 cidades (Chimoio – de nível “C” – e Manica – de nível “D”) e 4 vilas (Catandica, Gondola, Machipanda e Messica)[4]. Destes centros urbanos, três são autarquias, nomeadamente: Chimoio, Manica e Catandica.


Divisao Amnistrativa de Manica


Condições físico-naturais

Clima

A Província de Manica é caracterizada por um clima tropical alterado pela altitude, com tendência para quente e húmido, com duas estações distintas: uma chuvosa, de Setembro a Março, e outra seca, de Abril a Agosto.
As temperaturas médias no verão são de 20ºC e ocorrem em metade da província. Contudo, as temperaturas mais quentes (25ºC) ocorrem nos vales do Save e do Zambeze. As temperaturas mais frescas (15 a 20ºC) ocorrem nos distritos de Gondola, Manica, Mossurize, Barué e nas zonas montanhosas junto à fronteira com o Zimbabwe (PEDPM, op. cit, p.2).

Precipitação atmosférica

A precipitação média anual atinge os1.400mm. nas regiões secas, esta não ultrapassa os 700mm e nas zonas altas do interior pode atingir os 1.800mm.
No período seco, por vezes aparecem neblinas matinais, características das épocas de transição entre a estação húmida e seca, ocorrendo principalmente nas regiões altas, podendo ser acompanhadas de aguaceiros locais e/ou chuvas fortes (PEDPM, op. cit, p.2).

Relevo

O relevo da província é constituído por três zonas altimétricas, designadamente áreas de montanhas, planaltos e planícies.[5]
As montanhas situam-se essencialmente no extremo Oeste, com mais de 1000m de altitude, junto a fronteira com o Zimbabwe. É nesta zona que se localizam os pontos mais altos da província, nomeadamente:
  1. O Monte Binga, localizado na cordilheira de Chimanimani com 2.436m, por sinal o pico mais alto do País;
  2. O Monte Gorongue, localizado na Serra de Espungabera com 1.887m e;
  3. A Serra Choa, localizada no Posto Administrativo do mesmo nome, com 1.844m.
Aparecem ainda na província, afloramentos rochosos em forma de inselbergs. Os planaltos com altitudes que variam entre 200 e 1000m, localizam-se na região Central e Este, e ocupam cerca de 70% da área da província.
As planícies, com altitudes que variam de 100 a 200m estão localizadas no extremo Sudeste da província.

 

A província de Manica possui vastas áreas florestais com diversas espécies nativas e exóticas. Dentre as espécies nativas destacam-se as seguintes: Tabela de espécies e volume no Distrito de Machaze.
Nome comercial
Nome vulgar
Nome Científico
Pau preto
Eviko, Mpingo, Mico
Dalbergia melanoxylon
Chanfuta
Mussosso/Nthama/Muoco/Chene
Afzelia quanzensis Welw
Monzo
Muonzo/Mucado
Cobretum Imberbe Wawra
Pau ferro
Nakuata/Cochococho/Nenha
Swartzia madagaccarienis Desv.
Chacate-preto
Tsotso
Guibourtia conjugate
Sandalo
Xilati, Dzanvori
Spirostachys Africana Sonder
Chanate/Mopane
Legumaxosae/caesalpinoideae
Colophospermum mopane
Chanfuta
Chanfuta
Afzelia Quansensis
Umbila
Umbila
Pterocarpus angolensis,
Muonha


Jambire/ Panga-panga
Nambir, Panga panga, Piri, Npande
Millettia stulhmannii

As espécies exóticas de destaque são o pinheiro (Pinus Pinaceae)[6] e o eucalipto(Eucalyptus citriodora/Myrtaceae.),[7] que se podem encontrar principalmente nas zonas montanhosas dos distritos de Manica, Mossurize.
A floresta é essencialmente de floresta aberta de miombo com estratos diferenciados (altos, médios e baixos), favorecendo o crescimento de certas espécies de animais que se adaptam a cada estrato.
Nas áreas montanhosas, a floresta é sempre verde devido a abundância de chuvas ao longo do ano. Nas restantes partes da província, a vegetação é predominantemente semi-decídua.

Fauna
A província de Manica possui uma fauna bravia rica em animais de grande e pequeno porte. Os principais animais de grande porte são os indicados na tabela abaixo.
Nome comercial
Nome  vulgar
Nome científico
Elefante africano
Ndzou, Ndlovu
Leão
Phondolo
Panthera leo
Búfalo

Syncerus caffer
Hipopótamo

Hippopotamus amphibius

A fauna aquática é pouco expressiva e a sua exploração é praticada sob forma artesanal. Os crocodilos (Crocodylus niloticus) são os principais animais que existem e encontram-se nos rios Lucite, Zambeze.

Solos

Os solos da província de Manica compreendem essencialmente os solos franco-argilosos-arenosos castanhos e evoluídos; solos franco-argilosos-arenosos vermelhos com camada superficial mais leve; solos arenosos e solos pesados.
Os solos com fertilidade baixa a intermédia, em parte delgados, estão localizados na região Oeste, os quais são susceptíveis à erosão.
Os francos argilosos-arenosos vermelhos com camada superficial mais leve, profundidade variável, fertilidade baixa e susceptíveis à erosão, estão localizados na faixa Central e Norte.
Os solos arenosos, com fertilidade muito baixa e baixa retenção de água, localizam-se no Sul e no extremo Nordeste. E, os solos pesados, de difícil lavoura, localizam-se a Sul da província.

Hidrografia

A província de Manica é rica em recursos hídricos. Os principais rios correm no sentido Oeste-este, obedecendo a disposição do relevo. As principais bacias hidrográficas são:
  • Bacia do Zambeze, no extremo Norte é constituída pelo rio do mesmo nome e tem os rios Luenha, Nhamakombe e Pompue como principais afluentes.
Rio Luenha visto do distrito de Changara, Tete

  • Pungué na região central, para além do rio Pungué, tem os rios Nhazónia e Vanduzi como os principais afluentes.
  • Bacia do Búzi, é constituída pelos rios Búzi, Revué e Lucite
  • Bacia do Save no extremo Sul, tem como principais afluentes os rios Vumaúzi e Súrué.
Rede Hidrográfica da Província de Manica

Pode se também considerar as sub-bacias do Lucite, Luenha e Revué.

Geologia e mineralogia

A Província de Manica localiza-se numa região com rochas que pertencem ao período pré-câmbrico, onde estão inseridas várias ocorrências e jazigos valiosos de ouro, bauxite, cobre, pedras preciosas, asbestos, granito negro, diamante, carvão, água mineral, como ilustra a tabela abaixo.
Recurso mineral
Localização
Ouro
Água mineral
Manica, Sussundenga, Mossurize
Bauxite
Pedra preciosas
Manica, Macossa
Diamantes
Manica, Sussundenga, Mossurize
Águas minerais
Cobre
Guro, Tambara, Gondola
Carvão
Guro, Tambara, Gondola
Ferro
Manica, Guro, Tambara, Gondola
Asbestos
Manica, Sussundenga, Mossurize
Granito negro
Manica, Sussundenga, Mossurize

Por Fernando Nhaca
+282-822966280
+282-844959933






[2] PEDPM, 2011-15,p.2
[3] INE, 2007
[4] Resoluções do Conselho de Ministros nº 7/87 de 25 de Abril (cidades) e nº 9/87 de 25 de Abril (vilas); GPM (2007).
[5] PEDPM, op.cit., p.2
[6] Os pinheiros são árvores pertencentes à divisão Pinophyta, tradicionalmente incluída no grupo das gimnospérmicas. Este artigo se refere apenas às plantas do género Pinus, da famíliaPinaceae.
São nativos a maioria do Hemisfério Norte. Na América do Norte, com diversidade mais alta no México e na Califórnia. Na Eurásia, eles ocorrem desde Portugal e leste da Escócia até o extremo oriental da Rússia, Japão, norte da África, o Himalaia com uma espécie formando a floresta de coníferas subtropical, o (Pinheiro de Sumatra) que já cruzou o Equador em Sumatra. Os pinheiros são também plantados extensivamente em muitas partes do Hemisfério Sul.

[7] Eucalipto  é a designação vulgar das várias espécies vegetais do género Eucalyptus, ainda que o nome se aplique a outros géneros de mirtáceas, nomeadamente dos géneros Coorymbia e Angophora. São, em termos gerais, árvores e, em alguns raros casos, arbustos, nativas da Oceania, onde constituem, de longe o género dominante da flora. O género inclui mais de 700 espécies, quase todas originárias da austrália, existindo apenas um pequeno número de espécies próprias dos territórios vizinhos da Nova Guiné e Indonésia, e mais uma espécie (a mais setentrional) no sul das Filipinas. Adaptados a praticamente todas as condições climáticas, os eucaliptos caracterizam a paisagem da Oceania de uma forma que não é comparável a qualquer outra espécie, noutro continente.

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